domingo, 19 de julho de 2009

CASA DE ASE

Casa de ase.
Do abiã á iaô, do Ebome ao vodunce; do barracão á cozinha, ou da cozinha ao barracão?
São coisas que confunde a cabeça do pião.
Dizer que é coisa de negro, preto, graças a Olorum hoje é preconceito, diz o direito de qualquer cidadão. Que se senti ofendido, magoado, ferido com esta e outras formas de descriminação.
Nos terreiros de agora, sejam keto, banto ou angola, existe, ou pode ainda existir resquícios de uma escravidão, ou se seguem à risca uma hierarquia, que se têm posição ou parentesco, isto que se traz no “bolso” ou “berço”. Que se possa um posto galgar, existe resquícios de um preconceito, seja velado, ou desvelado, que se possa indagar. Existe ou não resquícios da escravidão dos lados de cá, nos terreiros de keto, banto ou angola? Ou estas coisas ainda existem, e por muitos e muitos se deixarem calar, lembrando as chibatas, que são substituídas por olhares, cacoetes e falares que podem ao que se acha escravo ainda hoje machucar.
Do abiã, quando ainda é visitante que se suscita toda cobiça do terreiro vir a pertencer, de primeiro fica na sala, mas logo isto se acaba e os degraus tem que descer, se faz escrevo sem direito a resposta e o que passa a aprender esteja certo ou errado sua fala não pode prevalecer. Depois de ser feito iaô, que para o chão deve olhar, recebe do seu mais velho seja novo ou não a triste missão de se fazer calar. “Cala a boca iaô, não olhe para o seu senhor, se prostre no chão para me ouvir falar”, um falar que pode ser certo ou errado, mas da parte do grande nunca é pecado mesmo que este venha a errar. E o iaô reclama e muitas vezes tem casos e casas que o iaô apanha sem nada falar, e com os olhos pró chão, cabeça baixa e de esteira nas mão vai galgando seu patamar, que seja ele mais um degrau abaixo alcançar. Mas tem aquele que nunca nada foi que chega muito depois e os degraus já vai alcançar, talvez seja um político, sangue nobre, branco ou rico que logo na cadeira vai se assentar, enquanto o preto, pobre e aflito sem direito a um olhar procura seu lugar no circulo dos irmãos para de esteira na mão seu lugar “hierárquico” entre os iguais se posicionar.
Nos terreiros de agora, sejam keto, banto, ou angola ainda existe resquícios da escravidão? Sei que para muitos pode ser demagogia, mais sem fugir nem ferir a magia, se vê muito de escravidão, deveras não velada, mas guardada e mascarada, onde muitas vezes só se escuta um “não”. Mas o que não e mesmo raro é ouvir alto e bem claro que iaô para muitos e como se fosse um cão. Mas onde fica a luta a favor da igualdade, há muita gente que confunde de verdade os sentidos desta nova significação, de certo confundem submissão com hierarquia, talvez nem saibam o que significa estas palavras na sua amplidão, de certo confundem hierarquia com senhor de engenho e liberdade com escravidão... Pois o erro sempre e pautado na falta de saber formal, do discernimento, ou mesmo no formato de se fazer aprender, por mais que pareça difícil se compreender. Deve-ser aprender, por mais difícil que possa parecer o significado de algumas palavras, como hierarquia, liberdade, direitos e ate mesmo escravidão, para que fique bem claro que este tempo não deve voltar.
Para nunca existir uma confusão entre hierarquia e ditador, entre zelador e senhor, pois seja na cadeira ou sentado no chão temos a mesma missão e só a essa nós devemos nos prostrar a missão dada por Olorum e por nossos orixás, que em nosso ori sempre será o senhor, sim estes sim são os provedores e detentores de todo saber. No meu ver seja de abiã, iaô ou ebome que tenha sete, quatorze, ou vinte e um, e mesmo quem só tenha um o respeito deve reinar, esta deve ser a hierarquia isto sim e amar o orixá. A sabedoria sempre foi detentora de poder, mas no nosso caso ela pode ser o caminho ao fundo do poço se não utilizarmos o respeito, a humildade e o amor. Não confundamos respeito com submissão, liberdade com escravidão, posição com direito ou cala a boca com respeito. Pois isto em nosso mundo de muitas lutas vencidas não cabe mais não. A sabedoria deve ser partilhada passo a passo, pois isso não destrona ninguém. O que vale mesmo e a humildade com ela aprendem de verdade a valorizar o outro e a si. Vendo no seu mais velho o aconselhador, onde enxergamos uma expiração, não o senhor pronto a bater. Orixá deve ser união e não separação como muitos tentam dizer, orixá e amor este sim é nosso senhor quem vem nos valer, seja o abiã, a iaô o ebome ou o zelador, tenha sete quatorze ou vinte e um, ou que tenha um o orixá é quem vai nos valer, pois este sim é o detentor de tudo que existe e possa existir, o senhor de todo labor de todo saber.
Everaldo Lovengstey Júnior

2 comentários:

  1. Peço desculpas pelos erros de grafia. nos proximos sairá melhor. Obrigado e muito axé!

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do seu tema. e concordo com muitas coisas. certamente o jeito de ver e viver o Candomblé hoje em dia esta aquem dos da origem,mas como não sabemos ao certo por experiencia como foi de fato no principio. vivamos tentando mudar estes papeis que poder rasurar o imagem do Candomble hoje. Existem muitas pessoas que se valem do poder para diser o que suas proprias cabeças sentem, não estão ligados inteiramente com as forças do Orun. mas deixamos estas pessoas de lado e passemos para fazer a mudança. isso sim é, e deve ser o inicio de uma mudança para melhor. Obrigado pelo espaço e que sua mãe possa te conceder cada vez mais sabedoria para levar a bandeira do Candomblé sem manchas do passado, isso que nos torna indiginados. Salve os doces filhos de Oxun, salve esta soberana Rainha.

    ResponderExcluir